Saiba como a categoria tem influenciado e conquistado uma nova geração de torcedores ao redor do mundo
Escrito por Eduarda Gouvêa
Revisado por Isadora Guerra e Letícia Sampaio
Que a Fórmula 1 vem ganhando cada vez mais público com o passar do tempo por meio de novas estratégias de marketing não é mais um segredo. Porém, o que poucos se dão conta é que têm se formado grupos de mulheres, homens, de diversas gerações, fanáticos ou não, que acompanham cada etapa dos mundiais. Consequentemente, ultrapassa-se o tradicional argumento de que a F1 é um esporte masculino. Para compreender melhor como a categoria atrai tanta gente, acompanhe abaixo trechos de entrevistas feitas por Eduarda Gouvêa, colunista do Mulheres no Paddock.
Tradição familiar e apego emocional
A F1 vem de uma tradição onde todos os domingos de corrida eram sagrados. Costumava-se ver uma família inteira se mobilizar na frente da TV para acompanhar seus ídolos e torcer por seu país. O amor pelo esporte era passado de pai para filho, seguindo por várias gerações. “Sinto saudades da época em que sentava todos os domingos com meus pais para assistir Senna correr”, relembrou a assistente administrativa Juliana Teixeira, 46 anos, de Salvador (BA). “Depois da morte dele (Ayrton), assistir às corridas não foi mais a mesma coisa”, completou.
Segundo Juliana, é bom ver que aos poucos a Fórmula 1 tem voltado a ser um programa de família, como era há décadas. Ao ser questionada sobre qual a sensação de assistir às corridas hoje, ela responde que “meus filhos hoje chegam comigo para discutir sobre questões de pistas, pneus e até mesmo o desenvolvimento dos carros, coisa que me deixou bem nostálgica, porque era isso o que eu fazia (com meus pais)”, refletiu.
A representante comercial Edileusa Marineli, 47 anos, de São Luís (MA), concorda com Juliana. “Uma das coisas que me motiva a assistir F1 hoje em dia é a memória que isso traz. Eu aprendi a gostar de automobilismo com o meu pai”, revelou.
O legado de Ayrton Senna
Por mais que a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) tenha apostado na série “Drive to Survive” (Netflix, 2019) e na venda para a Liberty Media, em 2016, para alcançar novos torcedores, o fator de principal de influência para que essa nova geração adentre ao universo da F1 é a questão familiar. Mais de 70% das mulheres entrevistadas afirmam que começaram a ver as corridas porque a mãe assistia ou o pai tinha o costume de ligar a TV todo domingo e acompanhar Ayrton Senna. Embora não tenham acompanhado na época em que o brasileiro corria, os jovens reconhecem Ayrton como o grande nome e símbolo do automobilismo mundial.
A estudante Maria Eduarda Gaspar, 19 anos, disse que acompanhar um de seus ídolos no esporte, o inglês Lewis Hamilton, hoje é sua maior motivação. “Ele me colocou nesse mundo. Estudar sobre a história da Fórmula 1 e ter o Senna como um gigante nesse esporte faz com que eu nunca queira parar de assistir”, resumiu.
Para a estudante Luana Vieira, 17 anos, de Florianópolis (SC), torcer por uma equipe com muita tradição e títulos, como a Ferrari, cria expectativas positivas para crer que novas vitórias virão. “Acreditar que a Ferrari vai vencer em algum momento me motiva a acompanhar a F1. Todo GP que eu assisto ainda é com a esperança de que um dos pilotos vai estar no pódio”, desabafou a jovem.
Alguns números sobre o público atual da F1
As pessoas que acompanham a Fórmula 1 são mais jovens do que nunca. É o que diz uma pesquisa promovida recentemente pela categoria que, entre outras descobertas, revelou Max Verstappen como o favorito dos fãs desde o sucesso da temporada de 2021. A pesquisa revelou que cerca de 63% têm menos de 34 anos, o que encoraja a F1 a seguir mudando a cada temporada. O objetivo principal é que todos os carros passem a ser iguais, principalmente do ponto de vista orçamentário, e que tudo dependa apenas do talento ou não do piloto. O levantamento contou com mais de 167 mil pessoas de 182 países. Entre os principais resultados estão cinco descobertas:
Crescimento de 83% no público feminino: cerca de 18% das participações foram de mulheres.
Pelo menos 64% dos fãs têm entre 16 e 34 anos e, destes, 34% têm menos de 24. A média de idade do público é de 32 anos.
51% dos torcedores jogam regularmente games de automobilismo, o que se assemelha ao perfil de pilotos jovens da categoria como Verstappen, Lando Norris, Charles Leclerc e George Russell, todos abaixo dos 25 anos.
O público da F1 também é novo: 34% confirmou ter passado a acompanhar o esporte nos últimos cinco anos.
Sua predominância europeia caiu de 63% para 57%, enquanto o número de fãs da Ásia, Pacífico, África e Oriente Médio cresceu de 10% para 21%. Dos participantes da pesquisa, 21% são das Américas.
O reflexo dos números nos autódromos
Definitivamente, as últimas temporadas têm proporcionado quebra de recordes, principalmente de lotação dos autódromos. O recorde histórico de Melbourne, em 2022, no GP da Austrália, é o maior em termos de público já registrado na história da F1: 420 mil pessoas durante o fim de semana. Anteriormente, o posto era de Austin, EUA, em 2021, que contou com 400 mil pessoas.
Destaque também para o GP do Brasil, em São Paulo, em 2022. Interlagos bateu seu próprio recorde de público, onde mais de 235 mil pessoas estiveram nas arquibancadas durante os três dias de evento. Em 2021, por exemplo, o número era de 182 mil. A organização do evento apontou um aumento de público de 28% com novas áreas para mais vendas de ingressos.
O futuro da F1
Para as entrevistadas, a expectativa é promissora para os próximos anos. De maneira geral, elas apostam em um lugar de inclusão, onde pilotos com talento tenham mais oportunidades do que pessoas com muito dinheiro.
“Eu torço para que a Fórmula 1 deixe de ser um esporte que apenas os ricos têm acesso. Já imaginou o que seria do Hamilton se ele não tivesse uma oportunidade de entrar? Olhe o talento que teríamos perdido com essa exclusão por causa da conta bancária”, enfatizou Juliana. “Hoje nós conseguimos ver que pilotos que não têm talento, mas têm dinheiro, estão ocupando vagas que poderiam facilmente ser de garotos talentosos que agora estão no banco, como o brasileiro Felipe Drugovich, reserva da Aston Martin”, completou Edileusa. “Espero que daqui alguns anos a categoria abra mais portas para novos talentos e os patrocinadores passem a priorizar esse ponto, não só a condição financeira dos pilotos”, encerrou a representante comercial Edilza Moraes, 42 anos, de Belém do Pará.
O futuro da F1 é repleto de surpresas, porém, um fato é certo: com mais pilotos que estejam no mesmo nível técnico, a competitividade aumenta e a F1 volta à essência do que era no começo, quando gigantes como Senna, Alain Prost, Nelson Piquet e Schumacher disputavam os campeonatos no braço, e não no orçamento.
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