Gestão do autódromo brasileiro abraçou as diretrizes da FIA e fechou parcerias para concretizar ações amigáveis ao meio ambiente
Escrito por Ana Claudia Aquino Rosa e Isadora Guerra
Há quem diga que sustentabilidade ambiental é a bola da vez, porém, é evidente que a agenda ambiental veio para ficar. A própria Fórmula 1 tem mostrado sua disponibilidade em ser mais amigável com o planeta por meio da Federação Internacional de Automobilismo (FIA). As escuderias, as empresas que dão suporte ao incrível circo da F1 e os pilotos podem usar suas influências para conscientizar as pessoas (alguns até já o fazem). A tal quebra de paradigma assusta, mas não é um bicho de sete cabeças. São adaptações, substituições, mudanças leves ao longo do tempo que, de fato, mostram um caminho que todos precisam seguir, inclusive a F1.
Nesse quesito, os autódromos também entraram na roda da sustentabilidade. O impacto das ações sustentáveis são fundamentais para mostrar ao planeta que a categoria se importa com o meio ambiente e que as demais empresas, organizações, instituições, precisam agir também. A ação de sustentabilidade é uma das metas primordiais da FIA que envolve, em etapas, a adoção de combustível de fontes renováveis e uma enérgica redução do uso de plástico e a pegada de carbono.
Autódromo José Carlos Pace
A gestão do autódromo José Carlos Pace, em Interlagos, São Paulo, foi uma das que abraçou as diretrizes da F1, via FIA, e fechou parcerias para completar o grid das ações de sustentabilidade. Desde 2021, o autódromo incorporou práticas de compensação de carbono, compostagem, água em embalagem tipo tetra pak (redução de plástico) e programa estruturado de coleta de resíduos sólidos, entre outros.
O GP de São Paulo reforça o conceito de sustentabilidade quando se alinha à uma cadeia de preservação ao meio ambiente. O papelão se transforma em telhas, o lixo orgânico vira fertilizante e realimenta as hortas comunitárias, os alimentos são recolhidos e doados para instituições. E por aí vai. Por isso, a etapa brasileira é destaque do calendário da F1.
Coleta de resíduos
Na área central do autódromo, foi instalado um equipamento de tecnologia própria para transformar os resíduos orgânicos gerados pelos restaurantes e pontos de alimentação em adubo. Esta máquina tem a capacidade de processar 2,4 toneladas de resíduos em cerca de 2 toneladas de adubo sem produzir gases prejudiciais. E quem ganha é a própria grama de Interlagos, que fica verdinha, além do planeta, obviamente.
Cerca de 40 toneladas de resíduos (alumínio, papel e plásticos) já foram destinados para a devida separação e posterior reciclagem, envolvendo inclusive cooperativas de coletores. Também houve uma redução significativa do uso de plásticos, já que as garrafinhas de plástico foram substituídas por embalagens tetrapack, de fácil reciclagem, ecologicamente corretas. Na última edição do GP, foram 200 mil unidades de 500ml cada.
Barreira de pneus
Os pneus utilizados durante a prova também têm destino sustentável. Uma empresa terceirizada trabalha com a substituição de pneus nas barreiras de proteção, triturando os sobressalentes e transformando-os em pisos ou ligas para asfalto. O trabalho de reciclagem de borracha é uma ação importante dentro da sustentabilidade, visto que a cada ano, entre 7 mil e 10 mil pneus são substituídos, triturados e devolvidos ao mercado para reutilização.
Coleta de óleo
Outra prática da organização de Interlagos é a coleta do óleo utilizado nos carros de F1 durante os três dias do evento. A empresa responsável instalou tambores dentro dos boxes das 10 escuderias. Depois de coletado e devidamente armazenado, o resíduo foi transportado por um caminhão específico para esse tipo de transporte e levado à fábrica da empresa Lwart, localizada em Lençóis Paulista/SP, uma das plantas mais modernas do mundo para rerrefino de óleo lubrificante usado. Com isso, o GP São Paulo recebeu o Certificado de Destinação Final, documento de valor legal que assegura a conformidade com as normas ambientais.
Aço reciclável
Com o objetivo de melhorar a experiência, a segurança e o conforto do público, neste ano o evento receberá novas estruturas com 400 toneladas de aço reciclável fornecido em uma parceria inédita com uma empresa gaúcha. E mais uma vez a sustentabilidade está presente, uma vez que o aço a ser utilizado é resultado de um processo que engloba a cadeia da reciclagem de sucata metálica, envolvendo mais de um milhão de pessoas, incluindo catadores e cooperativas. A reciclagem, baseada no conceito da economia circular, também tem efeitos positivos na mitigação das mudanças climáticas: poupa recursos naturais, reduz o consumo de energia e a emissão de gases de efeito estufa. A novidade foi anunciada em agosto deste ano.
Todas as intervenções realizadas no autódromo ficarão de legado para a cidade de São Paulo. Conforme Alan Adler, CEO do Grande Prêmio de São Paulo de Fórmula 1, o evento está mais do que alinhado com a FIA e o meio ambiente. “Somos também agentes e disseminadores da cultura da sustentabilidade. Por isso, estamos muito contentes com a parceria que firmamos, com uma empresa que prioriza a economia circular, promovendo a reciclagem de materiais e mitigando o impacto no meio ambiente. Tudo isso está em linha com as iniciativas do GP São Paulo para a preservação ambiental”, afirmou Adler.
Menos CO2
Uma campanha para o público utilizar transporte coletivo na ida e volta do autódromo também é um dos caminhos para a redução na emissão CO2, assim como a recomendação para o uso de etanol, um combustível menos poluente, no lugar da gasolina. A presença de veículos elétricos na frota que atende às necessidades do GP vai no mesmo sentido, bem como a compensação da pegada de carbono dos eventos de 2021 e 2022. Para tanto, o GP estabeleceu uma parceria com a empresa Solví Essencis para obtenção de créditos de carbono originados em São Paulo e com a Greener para aquisição de unidades de estocagem de carbono através da preservação da Floresta Amazônica. Interessante, não é mesmo?
Vale ressaltar que as questões ambientais são complexas, transdisciplinares e relativamente recentes, em relação a outras questões que movimentam a F1. Não existe ação humana que não gere impacto ambiental e também não existe a fórmula perfeita para neutralizar os impactos das ações humanas. O importante é que a F1 está no caminho correto, com DRS aberto e pisando fundo.
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