Muitas pessoas pensam que no automobilismo os atletas não fazem esforço físico algum, mas o que elas não sabem é que a Fórmula 1 é o Top Gun dos asfaltos
Escrito por Vitória Vilarino
Revisado por Isadora Guerra
Quem já assistiu o piloto Maverick em ação não tem dúvida de que ele está sob o efeito de diversos tipos de força e que estas interferem diretamente no seu corpo de formas que não conseguimos nem imaginar. Entretanto, quando vemos nossos pilotos dirigindo a mais de 300 km/h não imaginamos que uma das forças que age sobre eles é a mesma que fez o Coiote desmaiar no segundo filme de Top Gun.
Esta força é a força g e para entendermos quais os efeitos dela no corpo humano e como ela interfere no preparo físico dos pilotos precisamos primeiro entender o que ela é. Essa força está relacionada com a aceleração (ou desaceleração, no caso de algum acidente ou freada brusca) que é aplicada no nosso corpo, ela é diferente da força gravitacional e, por isso, é escrita com “g” minúsculo. Naturalmente estamos sobre a força de 1 g isso representa 9,8 m/s2, que é a aceleração da gravidade, portanto 2 g é duas vezes a aceleração da gravidade, 3 g é 3 vezes essa aceleração e assim por diante.
Sabendo disso agora vamos falar sobre quais os impactos dessa força no corpo humano. A força g pode agir em 3 sentidos: longitudinal (para frente e para trás), lateral (para esquerda e para direita) e vertical (de baixo para cima). Este último é o mais perigoso, pois ele faz o sangue se acumular nos membros inferiores prejudicando a oxigenação do cérebro desencadeando os efeitos colaterais mais importantes: perda da visão periférica, perda temporária da capacidade de ver cores e perda de consciência.
Vale ressaltar que tão importante quanto a intensidade é o tempo que a força g age sobre o corpo e que dificilmente os pilotos do automobilismo ficam períodos muito longos sobre o efeito da mesma, além disso na imensa maioria das vezes sobre eles a força age somente nas direções longitudinal e transversal, uma das exceções é a famosa Eau Rouge, onde vemos a força agindo também na vertical.
Agora vamos juntar tudo isso com o nosso maravilhoso mundo do automobilismo relembrando alguns momentos em que a força g surpreendeu tanto quanto a pole do Magnussen no Brasil.
Começamos com a fórmula Indie que teve uma prova suspensa no estado do Texas em 2001 devido às queixas de fortes náuseas e tontura relatadas pelos pilotos durante os treinos. De acordo com os médicos isso ocorreu pois a cada volta que durava 22 segundos os pilotos eram submetidos a uma força de 5,5 g durante 18 segundos, sendo que, por longos períodos, o máximo que o corpo suporta é 3 g.
Em 2007, durante o GP do Canadá, o piloto Robert Kubica bateu contra o muro a mais de 300 km/h o que fez agir sobre ele uma força de 75 g, o fato dessa força ter durado apenas milésimos de segundos justifica o fato dele não ter sofrido consequências mais graves. Apesar de ter assustado todos os espectadores com a magnitude da sua colisão Kubica não se feriu e perdeu apenas uma corrida.
Já no ano de 2017, durante o treino livre do GP da Austrália, o nosso Patrão, Lewis Hamilton, ficou sob o efeito de uma força de 6,5 g na curva 11 do circuito de rua em Melbourne, garantindo uma pole position em grande estilo. Nesse caso a força g não teve impacto sobre a saúde do piloto, pois ela atuou por um período muito curto de tempo e apenas nos sentidos longitudinal e transversal.
Agora, se você ficou curioso para saber como é ter a força g agido sobre você saiba que não é preciso estar a bordo do RB18 para saber como é, apesar de que seria muito mais emocionante! Mas enquanto essa oportunidade não chega podemos andar em uma montanha-russa, nela é possível ficar sob o efeito de uma força de aproximadamente 4 g e as mais radicais podem chegar até mesmo aos 6,5g do Sir Lewis. Entretanto se você não é tão fã de brinquedos radicais e quer saber o quanto as forças que agem sobre os pilotos exigem dos seus corpos tente ficar imóvel durante uma curva acentuada dentro do carro, sem se deixar levar pela força que te puxa para a direção contrária a curva (a menos que você seja o motorista, por favor!), agora imagine fazer isso com uma velocidade beirando os 300km/h, várias vezes consecutivas por cerca de 2 horas, difícil né? Eu cansei só de pensar!
Se depois disso você ainda pensa que não é difícil o suficiente pilotar um monoposto eu gostaria de te lembrar que a temperatura média dentro do cockpit é de 55°C e é nesse momento que lembramos e compreendemos a frase do nosso querido Dani Ricc “It’s real sweat, I’m a high-performance athlete, athelete’s sweat, sweat baby” (É suor de verdade, sou atleta de alto rendimento, suor de atleta, suor baby), mas isso é assunto para um outro texto...
Fontes