Em 2022, Russell venceu sua primeira corrida e Magnussen conquistou a pole inédita
Escrito por Brenda Marques e Isadora Guerra
Para os amantes do automobilismo, Interlagos sempre teve um espaço reservado dentro do coração (e também dos circuitos mais importantes do mundo). E por ser um grande templo da Fórmula 1, foi palco de muitos fatos marcantes ocorridos durante seus 83 anos. A seguir, confira 10 grandes curiosidades sobre acontecimentos históricos que se passaram no Autódromo José Carlos Pace, em Interlagos, São Paulo.
1. Emerson Fittipaldi vence primeira prova válida pela F1 em 1973
Emerson Fittipaldi foi o primeiro piloto brasileiro a vencer um GP Brasil de F1 em Interlagos, em 1973, pela Lotus. E foi logo na prova de estreia do Brasil como etapa oficial da Fórmula 1. Fittipaldi viu a bandeira quadriculada no dia 11 de fevereiro daquele ano e foi ovacionado pela torcida. O brasileiro ainda venceria no ano seguinte. Já em 1975, outro triunfo do país, agora com José Carlos Pace em primeiro.
2. Primeira dobradinha brasileira com Pace e Fittipaldi em 1975
A primeira dobradinha brasileira na Fórmula 1 aconteceu no GP do Brasil de 1975, com José Carlos Pace, da Brabham, e Emerson Fittipaldi, da McLaren. Ambos corriam com motores Ford. Até aquele ano, nenhum pódio desta categoria havia reunido dois pilotos nascidos no Brasil. A dobradinha até era considerada um tabu, que foi quebrado em 26 de janeiro com a grande e única vitória de Pace na categoria. Após ter largado na sexta colocação, “Moco”, como era carinhosamente conhecido, caminhava para um bom segundo lugar, atrás do francês Jean-Pierre Jarier, que estava em primeiro com a sua Shadow-Ford. Jarier havia conquistado a pole e feito a melhor volta da prova, mas acabou abandonando a oito voltas do final, com uma pane na bomba de combustível. Resultado: a primeira dobradinha brasileira em casa.
3. Senna vence pela primeira vez com uma marcha só em 1991
O ídolo Ayrton Senna já tinha dois títulos mundiais da F1, mas não havia conseguido nenhuma vitória correndo no Brasil. No entanto, em 1991, Senna veio determinado a vencer. Ele conseguiu largar em primeiro e vinha fazendo uma prova perfeita, abrindo larga diferença em relação aos outros pilotos. Porém, na volta 65 de 71, Senna começou a ter problemas no câmbio. Primeiro, o brasileiro perdeu a quarta marcha, tendo que passar da terceira direto para a quinta. Depois, nenhuma delas mais funcionava e Senna precisou fazer as últimas voltas apenas de sexta marcha, segurando a alavanca com uma mão e controlando o volante com a outra. Restando duas voltas, a chuva começou a cair em Interlagos, dificultando a direção para todos, ainda mais para o brasileiro. Ao final da corrida, o piloto estava exausto e só saiu do carro com ajuda. No pódio, Senna mal tinha forças para erguer o troféu e estourar a champagne.
4. Rubinho não vence em casa por trapalhada da Ferrari em 2003
A Fórmula 1 chegou a Interlagos em 2003 de uma forma diferente em relação aos anos anteriores. O domínio avassalador da Ferrari estava em derrocada. Mesmo assim, Rubens Barrichello conquistou a pole e deu esperanças à torcida brasileira. Obviamente, o tempo mudou e começou a chover em Interlagos. Na 18ª volta, a suspensão dianteira da Jordan de Ralph Firman quebrou e o inglês não conseguiu controlar o carro, que bateu na Toyota de Olivier Panis no “S"do Senna”. Safety Car na pista, muitos pilotos nos boxes e Rubinho apenas na quarta colocação.
Um engavetamento na Curva do Sol originou um cemitério de carros por conta da pista estar ainda muito molhada. Barrichello, então, pulou para o segundo lugar, colado em David Coulthard. Com a chuva diminuindo e os pneus de Rubinho funcionando melhor, ele partiu com tudo em busca da liderança, e, depois de fazer por várias vezes a melhor volta da corrida, aproveitou um erro de Coulthard no “S do Senna” na 45ª volta para assumir a ponta. Delírio total nas arquibancadas de Interlagos, pois Rubinho não só tomou a liderança como começou a abrir distância rapidamente de Coulthard.
No entanto, na 47ª volta, a Ferrari dele apagou misteriosamente na “Descida do Lago”. Interlagos emudeceu e viu o drama de Rubinho, que ficou sentado em um barranco lamentando a perda de uma provável vitória em casa. Mas o que aconteceu com o carro? Mulheres Explicam: como a Ferrari havia perdido a telemetria do carro de Barrichello, passou a usar como referência o consumo de gasolina de Michael Schumacher. Com a pista secando e o ritmo mais forte imposto pelo brasileiro, o combustível acabou antes do que a equipe imaginou. Um erro crasso e de principiante que comprometeu a grande chance que Rubinho teve para vencer em casa.
5. Massa campeão do mundo por 30s em 2008
Uma das temporadas mais marcantes da história da F1 aconteceu em 2008. Felipe Massa e o jovem Lewis Hamilton disputavam o título mundial ponto a ponto. Os dois chegaram à última prova em Interlagos com uma diferença de sete pontos, com 10 ainda em disputa. O brasileiro precisava ganhar a corrida e torcer para o britânico chegar, pelo menos, em sexto lugar. Massa fez a pole position e viu Hamilton largar em quarto. Na corrida, o piloto da Ferrari não deu chances para ninguém e liderou de ponta a ponta. A parte do brasileiro estava feita. Porém, ainda era necessário torcer contra o britânico da McLaren.
Na reta final da prova, a chuva começou a cair em São Paulo fazendo com que a maioria dos pilotos colocassem pneus intermediários. O alemão Timo Glock se manteve na pista com compostos secos e assumiu a quarta posição. Hamilton e Sebastian Vettel batalhavam pela quinta posição, com o alemão à frente. Quando Massa recebeu a bandeira quadriculada, ele estava se consagrando campeão mundial em casa, uma vez que o britânico ocupava a sexta posição.
Contudo, a infelicidade aconteceu na última volta. Glock vinha sofrendo com os pneus ao passo que a chuva se intensificava a cada volta. Nas últimas curvas, Vettel conseguiu passá-lo e Hamilton aproveitou para fazer a ultrapassagem logo em seguida. Com isso, o britânico assumiu a quinta posição e conquistou o seu primeiro título mundial com um ponto de diferença para Massa. O brasileiro subiu ao lugar mais alto do pódio, mas o clima em todo o circuito era de tristeza. Enquanto ouvia o hino brasileiro, ele chorava desolado pela perda do título. Depois, Massa foi ovacionado pelo público presente, em uma das vitórias mais dolorosas da história da F1.
6. Lewis homenageia Senna com bandeira do Brasil em 2021
Em 2021, outra temporada histórica da F1 teve em Interlagos um capítulo marcante. Hamilton e Max Verstappen batalhavam ponto a ponto pelo título mundial. Interlagos foi a 19ª etapa de 22 programadas. O holandês liderava o campeonato naquele momento e o britânico precisava reagir. 2021 foi o primeiro ano com corridas Sprint aos sábados, prova que definia o grid de largada para domingo. Correndo com o apoio da torcida brasileira, Hamilton fez duas provas históricas.
O heptacampeão mundial foi punido na classificação na sexta-feira e teve que largar em último na Sprint. No entanto, o piloto da Mercedes estava imparável. Ele ultrapassou boa parte dos adversários e conseguiu chegar em quinto. No domingo, o britânico recebeu cinco posições de punição por trocar o motor e largou na décima posição. Contudo, Hamilton estava empenhado em fazer uma das melhores provas da sua carreira. Ao final da primeira volta, ele já era quinto. Na volta 58, o britânico assumiu a ponta da prova após disputa acirrada com Max Verstappen, levando a torcida brasileira ao delírio. Ao final da prova, Hamilton não conteve a emoção, pediu uma bandeira do Brasil de um dos fiscais de pista e desfilou com ela por Interlagos, repetindo o gesto de Senna em 1993. Os fãs foram à loucura e até hoje Lewis conta com uma grande e fiel torcida no Brasil.
Hamilton no GP do Brasil de 2021. Fonte: AFP Senna no GP do Brasil de 1993. Fonte: Norio Koike/ASE
7. Primeira vitória de Russell na F1 foi no Brasil em 2022
O Brasil sempre reservou ótimos resultados para a Mercedes, especialmente em 2022. A equipe voltou a colocar no pódio seus dois pilotos em uma dobradinha com George Russell vencendo seu primeiro Grande Prêmio de F1. Russell já havia vencido a corrida Sprint, que soma pontos, mas não vale para as estatísticas oficiais. Especialmente bem durante o fim de semana, o britânico levou a corrida principal também, se emocionando ao sair do carro e se encaminhar no pódio.
8. Interlagos é palco da primeira pole de Magnussen e da Haas em 2022
Outra grande surpresa da prova de 2022 em São Paulo foi a pole do dinamarquês Kevin Magnussen, das Haas, no seu 140º GP. Debaixo de chuva, o magnata foi o primeiro piloto a sair dos boxes no Q3 e fez o tempo mais rápido até então. Após uma bandeira vermelha ocasionada por um erro de Russell e uma quantidade de chuva típica de Interlagos, nenhum piloto arriscou voltar à pista. Portanto, pole para Kev e a Haas. O dinamarquês encerrou a terceira maior espera de um piloto por uma pole na F1. Apenas Sergio Perez (216) e Carlos Sainz (151) demoraram mais que o magnata para largar na frente na maior categoria do automobilismo mundial.
E olha só a coincidência: a única pole de Nico Hulkenberg, atual companheiro de Kev na Haas, também foi no Brasil! Em 2010, o alemão conquistou o lugar de honra logo em sua temporada de estreia na F1. Porém, não foi pela equipe liderada por Gunther Steiner e sim pela Williams. Seu companheiro era, inclusive, Rubens Barrichello. Ou seja: em 2023, a Haas é a única equipe do grid com dois pilotos que já foram pole no Brasil. Coisas que só acontecem no Brasil!
9. Família de Senna constrói busto do piloto em homenagem aos 50 anos da realização da primeira corrida em SP
O automobilismo brasileiro celebrou em 2022 uma das datas mais importantes de sua história: os 50 anos da realização do primeiro GP de F1 no País, ainda de forma extra-oficial em 1972, em Interlagos. Por isso, a família de Ayrton Senna inaugurou uma grande escultura com o busto do piloto. Produzida pela artista Lalalli Senna, sobrinha do tricampeão mundial, a obra foi idealizada e feita como forma de agradecimento da família pelo carinho dedicado pelos fãs ao piloto em toda sua trajetória. O busto tem 3,5 metros de altura, pesa 550 quilos e é feito de alumínio polido e facetado. Fica dentro da arquibancada permanente de Interlagos, o chamado Setor A. A homenagem ao piloto em Interlagos, local onde ele iniciou sua carreira no kartódromo (hoje batizado com seu nome) e também onde teve duas conquistas históricas na F1 (1991 e 1993), se tornou um novo ponto de encontro para os fãs de automobilismo.
10. Interlagos é o berço de campeões mundiais
Interlagos também foi palco decisivo de títulos mundiais de pilotos. Desde 2004, onde o GP era realizado ao fim das temporadas, o Brasil viu cinco pilotos ganharem o título na corrida brasileira: Fernando Alonso (2005 e 2006), Kimi Raikkonen (2007), Lewis Hamilton (2008), Jenson Button (2009) e Sebastian Vettel (2012). Porém, o único piloto a vencer a corrida do título foi Kimi Raikkonen, os demais comemoraram seus títulos com combinações de resultados.
Que Interlagos continue sendo inesquecível para fãs e pilotos, assim como é especial para o automobilismo mundial. Quem sabe até 2030 um novo (ou não) campeão comemore seu título em terras brasileiras, emocionando ainda mais a torcida. E que, de preferência, haja brasileiros no grid, já que talentos não faltam!
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